O nascimento de um Ser precisa voltar a ser íntimo e espontâneo.
Nossa cultura fez com que as mulheres duvidem de sua capacidade natural de dar à luz.
O Brasil tem o muito discutível título de ser um dos campeões mundiais de partos por cesárea. Enquanto a taxa recomendada pela Organização Mundial da Saúde é de até 15%, em nossa rede hospitalar privada as cesarianas chegam a 90% dos partos.
Dar à luz deixou de ser um ato íntimo, instintivo e particular, para se transformar num evento público, frio e necessariamente hospitalar. De protagonistas, as fêmeas passaram a assistentes passivas, apartadas de seu ambiente familiar num momento tão especial de suas vidas, e terceirizaram o comando de seus próprios processos. O que se vê hoje em dia, então, é que o tecnicismo minimizou o afeto, o calor, a parceria, o tom tão yin que a natureza projetou para esse quase milagre.
O parto precisa urgentemente voltar a ser “coisa de mulher”!
Está na hora de lembrarmos que o parto é um processo natural que sempre fez parte da vida de milhares de gerações de mulheres, cuja sabedoria está em sua memória celular.
Nossa medicina obstétrica, por mais bem intencionada que seja, precisa compreender a gravidez e o parto de modo mais holístico e humanizado, e a mulher, por sua vez, necessita sair dessa mistura de impotência e alienação, porque na maioria das vezes entrega sua decisão e vontade na mão do profissional que a está assistindo em nome do medo, comodidade, conforto e tecnologia, aliados à falta de informação.
Por isso, o Absoluta propõe debatermos a necessidade de que o protagonismo desses processos volte às mulheres, reconvertendo os partos ao clima original de intimidade e feminilidade...
Trazemos aqui a palavra de dois profissionais bem experientes na área, o médico obstetra Ricardo Herbert Jones e a doula Fabiana Panassol. Dr. Ricardo é membro de entidades defensoras da humanização dos partos e profere palestras no Brasil e Exterior. Fabiana é terapeuta holística, doula e educadora-perinatal.
Uma mãe que teve parto em casa completa os depoimentos em favor da causa.
A mãe é a verdadeira protagonista do parto
O Brasil é, atualmente, um dos campeões mundiais de altas taxas de cesáreas. Em países mais desenvolvidos, o parto fisiológico é uma realidade. Na Holanda, por exemplo, há 12 anos, a taxa de cesarianas não ultrapassa a 6%, e 1/3 dos partos acontecem no domicílio.
Infelizmente, na sociedade moderna o parto foi se transformando no tratamento de uma doença ou na realização banal de uma cirurgia, e é ali, na sala de parto, que as equipes médicas mais competentes e bem intencionadas estarão a postos para aliviar a "enfermidade", as dores e o "sofrimento" da mulher que vai dar à luz...
Muitos obstetras nunca tiveram a oportunidade de acompanhar um parto verdadeiramente natural, até porque a gestação toda foi vista como condição patológica e medicalizada, mas embora, sendo hospitalar, o nascimento não deve ser visto ou confundido como um evento do médico, nem tão pouco desprovido de afeto e acolhimento, pois o parto continua pertencendo à mulher e à sua família. Não podemos esquecer que a parturiente é a verdadeira protagonista do ritual de dar à luz e não mera coadjuvante, quando, por fim, a todos agradece, menos a si mesma.
Historicamente e diante desse clima, pouco a pouco, a mulher foi perdendo o contato com suas raízes, sua memória, seu poder e o próprio corpo, foi se convertendo passivamente em uma mistura de impotência e alienação, porque na maioria das vezes entrega sua decisão e vontade na mão do profissional que a está assistindo em nome do medo, comodidade, conforto e tecnologia aliados à falta de informação.
O saber parir está dentro das mulheres - Os estudos do obstetra francês Michel Odent demonstram que o tipo de ambiente pode facilitar ou dificultar todo o processo de parto e nascimento. O maior inimigo para o parto é o medo - fator que gera uma maior produção de adrenalina no corpo, e com isso a mulher permanece num ciclo vicioso de medo/tensão/dor.
O saber parir está dentro das mulheres há milênios, ninguém ensina ninguém a parir, o importante é que esta memória possa aflorar em condições adequadas, num ambiente mais familiar e com privacidade, onde a parturiente sinta-se segura, que possa acompanhar o seu ritmo e movimento, seguindo os seus instintos, produzindo, neste caso, endorfinas, hormônios que possuem função anestésica e de prazer, pois assim o parto transcorre em menos tempo e é experenciado de forma positiva.
Vivenciar a humanização nos dias de hoje nos remete a uma retomada de consciência, de valorização e auto-estima, uma reflexão do que seja o real protagonismo feminino! Humanizar é transformar uma parturiente passiva em ativa, um desafio a todo modelo social imposto, inclusive com a presença amiga e afetiva da Doula, uma facilitadora na assistência às parturientes e suas famílias. Estas profissionais, também conhecidas como mães de parto, se utilizam de técnicas não convencionais e simples para facilitar e promover o alívio da dor. Entre elas, compressas fitoterápicas, massagens com óleos, exercícios que facilitam a dilatação e descida do bebê pela pelve materna, palavras encorajadoras e estímulos positivos, técnicas de respiração – o que é essencial para o relaxamento físico, emocional e energético da mãe e do bebê.
Humanizar o parto e o nascimento é perceber e respeitar a individualidade de toda a mulher, garantindo-lhe o direito à informação, conhecimento e acolhimento.
"Para mudarmos o mundo é necessário revermos a forma como nascemos". Michel Odent
Fabiana Panassol
Doula e Professora de yoga para gestantes
doulafabiana@yahoo.com.br
http://www.luzmaterna.net
PORTO ALEGRE/RS
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