Shantala: bebê também merece massagem!

Famoso por defender o parto humanizado, o obstetra Fréderic Leboyer em viagem à Índia percebeu que as crianças tinham bom tônus muscular e eram alegres, apesar da miséria explícita ao redor. Foi pesquisar e conheceu uma jovem mãe chamada Shantala, numa favela em Calcutá. A mulher, paraplégica, estava com o filho no colo e massageava a criança com muita naturalidade. O médico, então, percebeu que aquilo era uma tarefa diária das mães indianas, caiu a ficha e resolveu levar para a Europa o que havia aprendido, batizando a técnica com o nome daquela mãe.
A finalidade principal desta massagem é desenvolver a interação mãe-filho/pai-filho; assim, pode e deve ser aplicada por qualquer mãe, pai ou pessoa próxima do bebê, pois seu toque sutil é capaz de romper tensões, bloqueios, nódulos, pr
evenindo problemas futuros. A técnica alivia cólica e insônias, equilibrando o bebê físico, emocional e energeticamente.
Cristine Kliemann, terapeuta especializada, traça aqui um retrato panorâmico do tema, falando do histórico, dos resultados efetivos e sugere alguns exercícios. Cristine fez sua formação com Dra. Daniele Zill Heuert, fisioterapeuta, especialista em acupuntura, rpg e shantala e com Rivy Plapler Tarandach, terapeuta ocupacional.


"É necessário conversar com a pele do bebê... falar com as suas costas que têm sede e fome, com sua barriga... Nos países que preservam o profundo sentido das coisas, as mulheres ainda se recordam disso tudo. Aprenderam com suas mães e ensinarão suas filhas esta arte profunda, simples e muito antiga que ajuda a criança a aceitar o mundo e a sorrir para a vida". Frédérick Leboyer

Há milhares de anos, o Oriente descobriu que o uso do toque é essencial para o desenvolvimento integral do ser humano. Ainda no útero, nas primeiras semanas de vida, o embrião já tem contato sensorial com a parede uterina e com os estímulos externos refletidos através do líquido amniótico, que o envolvia e o massageava com pequenas contrações. O tato, portanto, é o primeiro dos sistemas sensoriais desenvolvidos pelo bebê e a primeira forma de comunicação dele com o mundo exterior.
A Shantala tem, então, o princípio cultural de reestabelecer o contato entre a mãe e o bebê, rompido no momento do nascimento. Esta massagem dá a criança o calor corporal que ela tinha dentro do útero junto à placenta, fazendo com que se sinta segura e amada. Não é apenas um toque terapêutico mas, sim, uma integração natural e fisiológica entre mãe e filho, auxiliando na passagem de um ambiente seguro e tranqüilo para outro, desconhecido e assustador.
Originária da Índia e baseada na medicina Ayurvédica e na Yoga, a Shantala foi trazida ao Ocidente pelo obstetra Frédéric Leboyer, que se tornou famoso por ser ardoroso defensor do parto humanizado. Leboyer, em sua viagem à Índia, observou uma moça paraplégica de nome Shantala, sentada no chão numa favela em Calcutá, massageando seu bebê, e ficou impressionado com os toques que esta prática envolvia. Quando ela terminou a aplicação da massagem, o médico pediu permissão para fotografá-la. Apesar de surpresa, por aquilo tratar-se de uma rotina diária, Shantala permitiu as fotos. Nos dias que se seguiram, o médico voltou a observar a moça para aprender o segredo contido naquele momento - feito, segundo ele, "de amor e luz, de silêncio e gravidade".
Em homenagem, Leboyer batizou a técnica com o nome desta mulher, e em 1976 publicou os ensinamentos recebidos no livro “Shantala, Massagem para bebês: uma arte tradicional”.
No Brasil e no Ocidente, de forma geral, a Shantala dá continuidade à proposta do parto humanizado. A técnica é vista por alguns profissionais apenas como uma massagem relaxativa ou estimulativa, outros já consideram uma terapia preventiva e curativa se utilizada junto a outros tratamentos terapêuticos, como, por exemplo, fisioterapia e psicoterapia.
Na Índia, essa prática não tem um nome específico, pois trata-se de uma atividade que faz parte dos afazeres diários das mães: é passada de mãe para filha e aplicada no bebê somente pela mãe. No Ocidente, devido ao fato de muitas pesquisas apontarem a importância da relação pai e filho recém-nascido, muitos homens demonstraram interesse em participar deste momento, seja como assistente ou como massoterapeuta. A técnica, então, passou a ser divulgada em cursos para casais.

Harmonização a partir das mãos - A massagem Shantala é uma técnica que atua na superfície subcutânea e que tem, em sua seqüência, a estimulação de diversos pontos do corpo do bebê, de modo a beneficiar e harmonizar todos os órgãos do corpo. Sabemos, hoje, que nosso corpo físico é perpassado por uma rede de canais energéticos e centros de geração de energia que são responsáveis pela nossa saúde física, mental e emocional. Assim sendo, os toques dados pela Shantala colaboram para um sono tranqüilo, alívio de cólicas, segurança, auto-estima e desenvolvimento cognitivo e motor. No aspecto afetivo, trabalha a relação mãe/pai e bebê, a comunicação e a interação entre eles.
A técnica ativa ainda a circulação sangüínea, regula a pressão arterial e aumenta a distribuição do sangue nos músculos, tecidos e diversos órgãos internos. Ajuda a fortalecer o sistema imunológico, trazendo também benefícios para os sistemas respiratório e digestivo.
Conforme a pressão utilizada no toque, a massagem produz efeito estimulante (com toques de maior pressão) ou relaxante (com toques de menor pressão), sobre o sistema nervoso do bebê.
Para sua aplicação, é importante que o ambiente seja tranqüilo e silencioso, e que a temperatura local esteja adequada para que o bebê não sinta frio, uma vez que ele estará sem roupas e em contato direto com a pele da mãe. A concentração, tranqüilidade e disposição de se doar integralmente neste momento são fundamentais para a mãe (ou pai) e o bebê. É importante também que se tenha consciência da própria respiração e da respiração da criança, pois através dela que se pode perceber as diversas reações causadas pelo toque. Também é fundamental a comunicação visual durante a massagem. É desta forma que os pais transferem à criança a energia positiva, segurança e carinho.
A Shantala não é, portanto, uma massagem unilateral, mas uma relação afetuosa de troca de energia, atenção e amor. Pode-se aplicar a massagem desde o nascimento, com toques bem suaves, até no mínimo os quatro meses de idade, mas se a criança se permitir pode-se seguir enquanto for possível. Hoje em dia, também há adaptação da técnica para crianças, adolescentes e mesmo adultos.
Nos bebês, o ideal é que seja aplicada sobre as pernas da mãe, sentada ao chão e com a coluna reta, já em adultos pode-se aplicar sobre uma maca ou colchonete confortável e firme.

A técnica, passo a passo - Para começar a aplicação da Shantala, recomenda-se esfregar as mãos para aquecê-las e deixá-las em temperatura agradável para tocar o bebê e mentalizar energias positivas.
Podem ser utilizados alguns óleos para facilitar os movimentos, evitando assim atrito ou desconforto a quem está recebendo o toque. Os óleos devem ser específicos para utilização em bebês. Normalmente, recomenda-se o óleo de semente de uva ou de gergelim. O tempo de aplicação varia de 5 a 10 minutos nos primeiros dias, e até em torno de meia hora a quarenta minutos depois que o bebê está maior e familiarizado com a Shantala.
Os movimentos são em sua maioria circulares, indo do centro para as extremidades do corpo com pressão e ritmo constantes. Começa-se a aplicação pelo peito, seguindo para os membros superiores e depois chegando ao abdômen. Deste, segue-se para os membros inferiores chegando até os pés.
Após concluir estes movimentos, deve-se virar o bebê de bruços perpendicularmente ao corpo da mãe para iniciar a massagem nas costas. Terminada esta parte, vira-se o bebê novamente de frente para massagear o rosto. Finalmente, são feitos ainda três exercícios da hatha-yoga com objetivo de trabalhar torção e extensão da coluna, liberando tensões, relaxando e facilitando a respiração.
Após a aplicação, deve-se dar o banho relaxante, sem ser necessária uma higiene completa. Neste momento, o objetivo é proporcionar bem-estar. Coloca-se o bebê imerso numa banheira com água na temperatura do corpo ou um pouco mais quente.
A mãe vai sustentar o bebê apoiando a nuca dele no pulso dela. É essencial que as mãos, braços e ombros da mãe não estejam tensos. Deixar que o corpo do bebê flutue livremente na água por 5 a 10 minutos (conforme a tolerância). Aqui, quem trabalha o relaxamento no bebê é a água, e não a mãe. Para finalizar, molhar a mão em água fria, passando-a no alto da cabeça, rosto e nádegas do bebê.
Esta técnica deve seguir uma rotina diária ou, no mínimo, semanal, para que seus benefícios possam ser observados.

BIBLIOGRAFIAS RECOMENDADAS:

LEBOYER, F. Shantala, Massagem para bebês: uma arte tradicional. São Paulo: Ground, 1995.
CASSAR, M. P. Manual de Massagem terapêutica. São Paulo: Manole, 2001.
REICH, E., ZORNÀNSZKY, E. Energia Vital pela Bioenergética Suave. São Paulo: Sumus, 1998.
CAMPADELLO, PIER Shantala, Massagem, Saúde e Carinho para o seu Bebê, São Paulo Ed. Madras, 2006

Cristine Kliemann
Terapeuta, instrutora, gerente administrativa do Espaço Merkabah
http://www.espacomerkabah.com.br/
crys_1671@yahoo.com.br
PORTO ALEGRE/RS

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